domingo, 5 de janeiro de 2014

Cidade Iluminada

          Ele praticamente se jogou de costas na pilastra. Deu um suspiro aliviado que se alguém o visse acharia que estava fugindo de alguém. Olhou para um lado e olhou para o outro e percebeu que tinha feito a ideia mais errada para aquela situação, afinal toda a cidade passava exatamente atrás daquela pilastra para pegar a condução do final do dia e ir embora. Pensou em ligar para a moça e tentar outro lugar, mas lembrou do pequeno detalhe que seria o dela estar sem telefone naquele dia. Pensou em fazer uma hora pelo ambiente, afinal tinha chegado com uns 25 minutos de antecedência. Depois de muito pensar e pouco resultado achou melhor ficar ali, afinal ela poderia chegar antes.
Era o fim de uma tarde quente de verão e começou a passar mentalmente toda a situação decorada para a hora em que ela chegasse. Parou, quase num susto, quando reparou bastante gente em volta. Tanta gente sozinha e ele que tinha problemas em ficar sozinho em algum lugar na rua com o receio de ser descoberto, como se fosse um criminoso sendo procurado pela Polícia. Aquela posição na pilastra, de costas para o movimento, parecia segura. Não era seu primeiro encontro, mas talvez fosse um dos mais esperados. Uma alegria tomou conta ao ver o convite partindo dela, naquela noite anterior a data do encontro. O tempo passava e seu coração cada vez batia mais rápido, a medida em que o horário da chegada iria se aproximando. 19:30 no relógio, a hora marcada, uma engolida seca, uma respiração profunda. Não dava mais pra fugir, eles se conheceriam pessoalmente naquele momento, pois até aquele minuto o contato deles seria exclusivamente pela Internet. 5, 10 minutos se passam após a hora combinada e a ansiedade. Começou uma grande reflexão em sua cabeça sobre um assunto tão comum da sociedade: mas até quantos minutos é válido o atraso? 15? 20? Existe um tempo máximo de espera? Depois desse tempo já era forte em sua cabeça a (mais uma) ideia de que ela tinha desistido, internamente ele começou a desejar que fosse. É difícil encarar uma pessoa que se atrasa. Daria uma bronca? Daria um sorriso e diria que tudo bem? Diria que não gostou da situação? A única certeza era que o clima que ele tanto esperava para quando ela chegasse não seria realizado.
30 minutos de atraso. Nessa hora já estava conformado: mais uma decepção em sua vida. Sua vida era assim, uma tristeza atrás da outra. Quando se recuperava de uma, vinha a próxima. Antes de continuar a se lamentar, percebeu algo que a adrenalina da espera do encontro não o tinha feito reparar. Levanta a cabeça, vencendo a timidez, e se depara com uma das mais belas visões que tinha visto na sua vida: a cidade toda iluminada em sua frente. Naquela noite agora fresca, a lua cheia brilhava no céu e parecia uma pintura complementando aquela imagem belíssima da metrópole encantadora. Olhou para os lados e notou que as pessoas contemplavam aquela bela visão e entendeu porque as vezes alguém para sozinho na rua e olha pra algo. Começou a pensar em quantos lugares poderia ter deixado de vislumbrar por ter a vergonha de ficar parado em um lugar. Ficou ali mais uns 15 a 20 minutos. De repente ele lembrou da moça e do encontro. Agora era mais que oficial: ela não apareceria mais. Todo o seu pensamento e preparação para aquele momento tinha sido em vão.
          Olhou novamente aquela cidade inspiradora e iluminada antes de ir embora. Começou a refletir quando iria voltar aquele local e contemplar tão linda paisagem. Desencostou da pilastra, abriu um pequeno sorriso, respirou fundo e saiu. Acredite, ele estava feliz da vida...